v. 1, n. 2, jul. 2012


VITRINE DA MEMÓRIA


Os 80 anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

Nos fins da década de 20 a 30, parecia, assim, que estávamos preparados para a reconstrução de nossas escolas. A consciência dos erros se fazia cada vez mais palpitante e o ambiente de preparação revolucionária era propício à reorganização. O país iniciou a jornada de 30 com um verdadeiro programa de reforma educacional. Nas revoluções, como nas guerras, sabe-se, porém, como elas começam mas não se sabe como acabam."
(TEIXEIRA, 1952)





v.1, n.2, Jul.2012.
"Onde se tem de procurar a causa principal desse estado antes de inorganização do que de desorganização do aparelho escolar, é na falta, em quase todos os planos e iniciativas, da determinação dos fins de educação (aspecto filosófico e social) e da aplicação (aspecto técnico) dos métodos científicos aos problemas de educação. Ou, em poucas palavras, na falta de espírito filosófico e científico, na resolução dos problemas da administração escolar."
 [...]

"Toda a educação varia sempre em função de uma "concepção da vida", refletindo, em cada época, a filosofia predominante que é determinada, a seu turno, pela estrutura da sociedade. E' evidente que as diferentes camadas e grupos (classes) de uma sociedade dada terão respectivamente opiniões diferentes sobre a 'concepção do mundo', que convém fazer adotar ao educando e sobre o que é necessário considerar como "qualidade socialmente útil". 
[...] 
"Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decorre logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais. A educação que é uma das funções de que a família se vem despojando em proveito da sociedade política, rompeu os quadros do comunismo familiar e dos grupos específicos (instituições privadas), para se incorporar definitivamente entre as funções essenciais e primordiais do Estado." 
[...] 
"A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação são outros tantos princípios em que assenta a escola unificada e que decorrem tanto da subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do direito biológico que cada ser humano tem à educação." 
[...] 
“[A Universidade] deve ser organizada de maneira que possa desempenhar a tríplice função que lhe cabe de elaboradora ou criadora de ciência (investigação), docente ou transmissora de conhecimentos (ciência feita) e de vulgarizadora ou popularizadora, pelas instituições de extensão universitária, das ciências e das artes.” 
[...] 
“Mas, de todos os deveres que incumbem ao Estado, o que exige maior capacidade de dedicação e justifica maior soma de sacrifícios; aquele com que não é possível transigir sem a perda irreparável de algumas gerações; aquele em cujo cumprimento os erros praticados se projetam mais longe nas suas conseqüências, agravando-se à medida que recuam no tempo; o dever mais alto, mais penoso e mais grave é, de certo, o da educação [...]
(Manifesto dos Pioneiros da Educação, 1932)




OS PIONEIROS
Fernando de Azevedo - Afranio Peixoto - A. de Sampaio Doria - Anisio Spinola Teixeira - M. Bergstrom Lourenço Filho - Roquette Pinto - J. G. Frota Pessôa - Julio de Mesquita Filho - Raul Briquet - Mario Casassanta - C. Delgado de Carvalho - A. Ferreira de Almeida Jr. - J. P. Fontenelle - Roldão Lopes de Barros - Noemy M. da Silveira - Hermes Lima - Attilio Vivacqua - Francisco Venancio Filho - Paulo Maranhão - Cecilia Meirelles - Edgar Sussekind de Mendonça - Armanda Alvaro Alberto - Garcia de Rezende - Nobrega da Cunha - Paschoal Lemme - Raul Gomes."


A questão merece ser examinada. Verificando-se, porventura, que certas carreira universitárias estão realmente superlotadas, sem sinais de ampliação próxima, entendo que não devemos continuar indiferentes á corrida dos moços para as respectivas escolas, nem esquecidos da nossa certeza de que muitos vão encontrar, ao fim do curso, a amargura do desemprêgo, que os coagirá a tomar o destino estranho aos estudos e as técnicas que aprenderam." (ALMEIDA JÚNIOR, [1956], p. 269-270 )



"[...] constitui o Manifesto um documento histórico de que já não se pode subestimar a importância, seja qual fôr o ponto de vista que se tomar para sua apreciação ou seu julgamento. É, de fato, uma peça que define a posição e o pensamento avançado não só de seu autor como também de todo um grupo numeroso de intelectuais e educadores, reapresentados por seus signatários [...]." (AZEVEDO, [19--], p. 55)




"A quem se habituou a dobrar-se à complexidade dos problemas de educação que assumem em cada meio aspectos novos e se eriçam de dificuldade de tôda natureza, não será necessaria análise minuciosa do nosso aparelhamento escolar para lhe fazer tatear os erros e defeitos. Bastará, para que se desvaneça a ilusão de suas apregoadas perfeições, lembrar como em geral têm sido encaradas e tratadas entre nós as questões de ensino e de educação. (AZEVEDO, [1960], p. 31)



"As dificuldades materiais que experimentam os educadores, os alunos de nossas escolas, os pais de nossos alunos nas escolas dos países capitalistas e coloniais, são o produto, em primeiro lugar, da insuficiência de recursos para a educação e para a proteção a infância, cada vez mais sacrificados às despesas com armamentos e guerras coloniais" (LEMME, 1955, p. 21)




"Os educadores devem gozar do livre exercício dos direitos do cidadão e do profissional. Aceitando como finalidade da educação o desenvolvimento da personalidade da criança, os educadores devem respeitar a liberdade de consciência de seus alunos e estimular nêles a formação do espírito crítico." (LEMME, 1955b, p. 37)




"Nesses sentido, a educação será a 'socialização das crianças' (Durkheim), a 'implantação da cidadania' (Fichte), a 'revisão da experiência social' (Dewey). Negar êstes princípios seria negar a evidência. Com êles não há de se pretender o despotismo do Estado,nem a abolição das mais altas prerrogativas humanas,a se exprimirem numa personalidade livre e consciente. (LOURENÇO FILHO, [1940], p. 105)




"[...] O país da Arcádia
jaz dentro de um leque:
sob mil grinaldas,
verde-azul floresce.
Por êle resvala,
resvala e se perde,
a aérea palavra
que o zéfiro escreve. [...]"
(MEIRELES, 1965, p. 63-64)

"Abrir escolas seria fechar prisões, e preparar, em bases indestrutíveis, a felicidade humana." (PEIXOTO, 1952, p. 7 )











BIBLIOGRAFIA*

ALMEIDA JÚNIOR, Antonio Ferreira de. Problemas do ensino superior. São Paulo: Ed. Nacional, [1956]. 505 p. (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Série 3. Atualidades pedagógicas, v. 65).

AZEVEDO, Fernando de. A educação entre dois mundos: problemas, perspectivas e orientações. São Paulo: Melhoramentos, [19--]. 239 p. (Obras completas de Fernando de Azevedo, v. 16).

AZEVEDO, Fernando de. A educação na encruzilhada: problemas e discussões. 2. ed. [São Paulo]: Melhoramentos. [1960]. 271 p. (Obras completas de Fernando de Azevedo, 6)

LEME, Paschoal. A situação do ensino no Brasil: (à margem da Conferência Mundial de Educadores). Rio de Janeiro: [s. n.], 1955b. 77 p.

LEMME, Paschoal. A educação na U.R.S.S. Rio de Janeiro: Editorial Vitoria, 1955. 259 p.

LOURENÇO FILHO, Manuel Bergstrom. Tendências da educação brasileira. São Paulo: Melhoramentos, [1940]. 160 p. (Biblioteca de educação, v. 29)

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de janeiro: Letras e Artes, 210 p. 1965.

PEIXOTO, Afrânio. Ensinar a ensinar: ensaios de pedagogia aplicada à educação nacional. Rio de Janeiro: F. Alves, 1923. 218 p.

TEIXEIRA, Anísio. Discurso de posse do Professor Anísio Teixeira no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.17, n.46, p.69-79, 1952.¹

TEIXEIRA, Anísio. Educação para a democracia: introdução educacional. Rio de Janeiro: J. Olympio, [1936]. 286 p.



*Todas as obras estão disponíveis para consulta local na Biblioteca do CFCH/Coleção INEP.


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