terça-feira, 15 de outubro de 2013

Os “Mestres de amanhã” hoje nas palavras de Anísio Teixeira*

Em 1963 Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro, por ocasião da sessão do Conselho Internacional de Educação para o Ensino proferiu o discurso intitulado “Mestres de amanhã”. Neste texto ele revela os vários desafios dos “mestres de amanhã” e o poder das tecnologias na sala de aula. Deixa claro que se dirige aos mestres do que chama de ensino comum.

Creio, no exame do tema que nos ocupa, que não me cumpre exprimir apenas ansiedades e esperanças a respeito dos mestres de amanhã, mas procurar antecipar, em face das condições e da situação de hoje, o que poderá ser o mestre dos dias vindouros. E entre os mestres buscarei, sobretudo, caracterizar os mestres do ensino comum, do ensino destinado a todos, ou seja, na fase contemporânea, os mestres da escola primária e da escola secundária. (TEIXEIRA, 1963, p. 10, grifo nosso).

Já se passaram 50 anos e o texto nos revela problemas atuais, ou melhor, desafios antigos que neste período ainda não foram superados. Anísio mostra, no trecho abaixo, as várias facetas destes mestres. 

Para isto, ouso pensar, o problema consistiria em formar um mestre, êsse mestre de amanhã, que fôsse um pouco do que já são hoje certos jornalistas de revistas e páginas científicas, um pouco dos chamados por vezes injustamente popularizadores da ciência, um pouco dos cientistas que chegaram a escrever de modo geral e humano sôbre a ciência, um pouco dos autores de enciclopédias e livros de referência e, ao mesmo tempo, mais do que tudo isto. (TEIXEIRA, 1963, p. 17, grifo nosso).

A maravilha deste texto está na sua atualidade, escrito em 1963, mas poderia ter sido escrito em 2013, os desafios ainda são os mesmos. 

Por que não será impossível êste mestre? Porque são extraordinários os recursos tecnológicos que terá para se fazer um mestre da civilização científica, podendo para isto utilizar o cinema como forma descritiva e narrativa e a televisão como forma de acesso a mestres maiores que êle.

O mestre seria algo como um operador dos recursos tecnológicos modernos para a apresentação e o estudo da cultura moderna, e como estaria, assim, rodeado e envolvido pelo equipamento e pela tecnologia produzida pela ciência, não lhe seria difícil ensinar o método e a disciplina intelectual do saber que tudo isso produziu e continua a produzir.

A sua escola de amanhã lembrará muito mais um laboratório, uma oficina, uma estação de televisão do que a escola de ontem e ainda de hoje. Entre as coisas mais antigas, lembrará muito mais uma biblioteca e um museu do que o tradicional edifício de salas de aulas.

E, como intelectual, o mestre de amanhã, nesse aspecto, lembrará muito mais o bibliotecário apaixonado pela sua biblioteca, o conservador de museu apaixonado pelo seu museu e, no sentido mais moderno, o escritor de rádio, de cinema ou de televisão apaixonado pelos seus assuntos, o pIanejador de exposições científicas, do que o antigo mestre-escola a repetir nas cIasses um saber já superado. (TEIXEIRA, 1963, p. 17-18, grifo nosso).

Mestre-bibliotecário, mestre-museólogo, mestre-jornalista, mestre-mestre e muitos outros, mestres são todas as profissões em uma só.


Nossa homenagem ao Dia do Mestre!


TEIXEIRA, Anísio. Mestres de amanhã. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v.40, n.92, out./dez. 1963. p.10-19. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/mestres.html. Acesso em: 12 out. 2013.


* Texto de Érica Resende (Bibliotecária do CFCH e Mestre em Educação)

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